Duas semanas atrás falei aqui sobre 2001 - Uma Odisseia no Espaço. Não leu ainda? Clique aqui e confira!
Como falamos, para a concepção de 2001, o diretor Stanley Kubrick se uniu ao escritor Arthur C. Clarke, autor de contos de ficção científica, para elaborar um romance com título homônimo. Só que a produção de Clarke não parou por aí. O capítulo seguinte foi 2010 - Uma Odisseia no Espaço 2, 2061 - Uma Odisseia no Espaço 3 e 3001 - A Odisseia Final.
Apenas 2010 foi levado às telas do cinema. Com o subtítulo de "O Ano em Que Faremos Contato" em português do Brasil, procurou explicar as perguntas deixadas em aberto no filme de 1968. Para muitos, isto foi uma tremenda heresia e por isso acabou no esquecimento. Em 2015, durante o fechamento da 2001 Vídeo, localizada na Avenida Paulista, encontrei o DVD e comprei para minha coleção.
Confesso que assim como muitos fãs de Kubrick, não gostei inicialmente da obra dirigida por Peter Hyams e protagonizada por Roy Scheider, John Lithgow, Helen Mirren e que contou com os retornos de Keir Dullea ao papel de David Bowman e de Douglas Rain a voz do nosso querido HAL-9000. Mas 5 anos depois, mudei de opinião e a sequência entrou para os meus filmes favoritos.
Seu ritmo bem determinado de cenas não e algo comum. Ironicamente passa a ideia de, ao contrário da visão de Kubrick, querer situar o espectador de cada passo da história, que consiste em mostrar o Dr. Heywood Floyd tentando reparar os erros da missão que levou a morte dos astronautas da nave Discovery em 2001. Ele consegue ir ao espaço junto com a tripulação russa na nave Leonov e, enquanto a missão se desenrola, a tensão na Guerra Fria toma conta do noticiário.
É interessante situarmos a história tanto no tempo do filme quanto da vida real. 2010 foi lançado em 1984, num mundo comandado por Ronald Reagan como presidente dos Estados Unidos e Konstantin Chernenko, um dos líderes que menos tempo chefiou a União Soviética após o longo periodo de Leonid Breznev. A situação estava realmente tensa, algo que o mundo não via desde a Crise da Baia dos Porcos em 1961, quando a URSS ameaçou bombardear os EUA com mísseis posicionados em Cuba.
No enredo de 2010, o mundo se encontra em situação similar ao 1984 real, com a tensão a flor da pele e países duelando para provar qual era o melhor sistema político-economico. Será que tal situação influenciaria na relação de Floyd com seus novos amigos?
Além desta questão, há ainda a pergunta: quando reativado, Hal seria confiável? Para minorar os riscos, junto com Floyd vai o Dr Chandra, criador do computador. Antes da viagem somos apresentados a Sal, uma inteligência feminina irmã-gêmea do computador.
As respostas você pode ter assistindo ao filme, é claro que eu não vou dar spoiler! Mas embora "esquecido", 2010 conseguiu faturar 10 milhões de dólares a mais que seu custo, chegando a 40 milhões de dólares na América do Norte.
E aí, você já assistiu? O que achou? Conte para a gente!
Título: 2010 - O Ano em que faremos contato Diretor: Peter Hyams Roteiro: Peter Hyams e Arthur C. Clarke Elenco: Roy Scheider, John Lithgow, Helen Mirren, Bob Balaban, Keir Dullea, Douglas Rain Ano de produção: 1984 Duração: 116 minutos Estúdio: MGM
Após lançar o grande sucesso Tubarão (Jaws, 1975), Steven Spielberg ofereceu a Universal o projeto de um filme onde humanos seriam visitados por habitantes do espaço. O estúdio recusou o projeto e ele o ofereceu a Columbia que topou produzir.
O cinema já havia recebido títulos de ficção científica, como o próprio 2001 sobre o qual falei na semana passada. Mas a ideia de Spielberg ia além. Ele procurava mostrar no filme o lado "criança" de uma sociedade que, embora embora estivesse fazendo a transição do analógico para o digital e já visitado a Lua, ainda era muito infantil em relação às questões do além-Terra.
Em entrevista, Spielberg conta que o título surgiu das explicações do ufologista J. Allen Hynek, que prestou consultoria ao cineasta. Allen já havia trabalhado para o governo norteamericano na identificação de casos de ufologia. Embora tenha provado que milhares não eram reais, aqueles que ele não conseguiu chegar a um parecer o fizeram largar o trabalho na administração federal e se dedicar a estudar o assunto.
Segundo J. Allen Hynek, um contato de primeiro grau é aquele no qual o extraterrestre faz algum contato nos céus, de forma visual; o de segundo grau é aquele em qual alguma marca é deixada (como no caso dos círculos eternizados em "Sinais"); por fim, o de terceiro grau é aquele em que humanos e os visitantes "conversam" ou se tocam. Dai surgiu o título "Contatos Imediatos de Terceiro Grau" (Close Encounters of the Third Kind). O diretor teve dificuldades em explicar o conceito para o estúdio, mas tudo correu bem e Allen chegou a aparecer por breves segundos na sequência final da obra. Uma bela homenagem!
Ainda em seu relato, Spielberg conta que sua escolha principal para o papel de Roy Neary tinha sido Steve McQueen, que embora tenha gostado muito do roteiro acabou recusando por um motivo bem interessante: ele disse que nunca em qualquer filme dele havia conseguido chorar. Spielberg alegou que poderia tirar as cenas de choro do filme, mas McQueen disse o principal: eu não consigo chorar como ator, mas como espectador me emocionei muito ao ponto de deixar lágrimas rolarem. Por isso, não retire. O público merece ter esta emoção, esta verdade.
Steve McQueen, o chamado "King of the Cool"
Uma figura bem conhecida do público fã do diretor o rondava querendo conquistar o papel: Richard Dreyfuss, o oceanógrafo Matt Hooper de Tubarão. Após muita insistência, Spielberg enxergou algo nele: o olhar de criança, aquele que se maravilha com o simples e com o extraordinário, justamente o que ele procurava para a produção.
Outro papel importante seria o do estrangeiro que investigava as primeiras ocorrências de contato que aconteciam em todo o mundo no filme. Seguindo o mesmo padrão, Spielberg, reticente, ligou para um dos seus maiores ídolos: François Truffaut. O lendário diretor francês topou na hora. Steven Spielberg conta que até hoje não conheceu pessoa mais bondosa no mundo. A dificuldade com o inglês, reforçava essa tentativa de comunicação com um mundo diferente.
O filme começa com a descoberta, no deserto de Sonora, no México, de um avião desaparecido na segunda guerra mundial (isso em 1977!). O equipamento estava intacto, mas sem sinal de seus tripulantes. Um morador local, com parte do rosto bronzeado diz que viu belas luzes nos céus. Enquanto isso, fenômenos do tipo acontecem na India e nos céus de Indianápolis, onde duas aeronaves quase colidem. Já na cidade de Muncie, também no estado de Indiana, um garoto de apenas três anos tem primeiros contatos com as luzes. O fato mexe com a comunidade local, e logo os oficiais de Washington - com todo aquele "cuidado" - chegam a localidade para estudar os acontecimentos. Só que o eletricista Roy não se convence e junto com a mãe do garoto Barry, Gillian, seguem rumo ao Wyoming, onde tudo parece acontecer. Tudo devidamente ligado pelas cinco notas que hoje estão no inconsciente de milhões ao redor do mundo.
A composição é de John Williams, rei das trilhas para cinema e televisão. O autor do tema do telejornal NBC Nighly News, das Olimpíadas de Atlanta, de E.T. e de outros grandes sucessos elaborou mais de 30 versões antes de bater o martelo com o diretor. O resultado: o Grammy de melhor trilha sonora, o Oscar especial de Efeitos Sonoros e a indicação a melhor trilha sonora também pela Academia. Tudo isso, vale lembrar, no mesmo ano em que Star Wars chegou às telas, o que rendeu uma cena incrível: os dois filmes interagindo na cerimônia!
Um fato interessante para quem gosta de televisão é que este filme ajudou a inaugurar a Rede Manchete de Televisão e deu o tom do visual futurista da emissora de Adolpho Bloch. No dia 05 de junho de 1983, após o show inaugural, a obra foi exibida. Antes disso, ainda com os slides experimentais, o recado já estava dado: era um dos maiores sucessos da história do cinema chegando para todo o Brasil.
Slide de inauguração da TV Manchete em 05/06/1983
Quando digo que deu o tom, não é exagero. Embora a Rede Tupi já tivesse usado as cinco notas do filme em uma vinheta, a Manchete repetiu o fato e o toque virou o seu "plim-plim" na divisão dos blocos de todos os filmes e séries exibidos por pelo menos seus 3 primeiros anos.
Além disso, os geradores de caracteres (onde os nomes são apresentados), inclusive dos telejornais, ganharam a mesma fonte do filme. As referências não foram poucas, até o estúdio tinha um tom espacial, além do próprio logo, uma nave!
Ainda na edição especial lançada em DVD em 2009, Spielberg fala sobre as versões que foram lançadas. Graças ao grande sucesso do filme, ele conseguiu autorização para gravar uma versão extendida, onde um grande navio apareceria em alguma das locações. Em troca, ele diz que teve que fazer um pacto com o Diabo, ao ter que criar imagens dentro da nave na sequência final. Ele discordava da ideia por achar que essa visão deveria ser criada pelo próprio espectador. Na versão do diretor, este trecho foi adaptado. O box contava com as três versões e ainda está disponível em algumas lojas online.
O diretor ainda conta que, com excessão de Tubarão, que contou com muitas cenas nas águas, Contatos foi o filme mais difícil de sua carreira até então. O nível de detalhismo era enorme!
E onde entra E.T. neste texto? Bom eu só posso contar se você aguentar o spoiler! Então, se ainda não viu Contatos Imediatos do Terceiro Grau, não prossiga! hehe
Na cena final, os extraterrestres visitam a Terra e devolvem todas as pessoas que foram abduzidas, incluindo Barry e a tripulação do avião da segunda guerra. Um dos seres até pensa em ficar na Terra, como parte de um intercâmbio, já que Roy decide ir com eles embora. Mas Spielberg explica que, embora tenha pensado em deixá-lo na Terra para ter contato, achou melhor que ele fosse embora também. A ideia do extraterrestre convivendo com humanos foi melhor trabalhada e se tornou o fenômeno de 1982.
Até a próxima!
Titulo em português: Contatos Imediatos do Terceiro Grau
Titulo original: Close Encounters of the Third Kind